quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Rotina

Oito horas da manhã, soa o despertador na cabeceira. Como marteladas frias e constantes, o som do dever foi despertando gradativamente Joaquim de seu sono profundo. Ele levantou-se da cama com pesar, sentindo o vento gélido da manhã chicoteando suas canelas descobertas e fazendo seus pêlos se arrepiarem. Ligou o chuveiro e despiu-se enquanto esperava que a água do banho esquentasse. Entrou no box e deixou a água quente cair sobre ele. Fez sua higiene com pressa, como era de praxe. Puxou a toalha e enxugou o rosto primeiramente, seguido pelo resto do corpo. Voltou ao quarto com a toalha presa a cintura. Caminhou em passos silenciosos até o armário e escolheu um terno adequado. Vestiu-se em velocidade e discrição impressionantes enquanto saía do quarto até chegar na cozinha.
Olhou frustrado para a cafeteria que ainda continha café da noite anterior. “Ela deve ter se esquecido de fazer café hoje de manhã” ponderou Joaquim em relação à mulher. Ela sempre fazia café fresco enquanto ele estava no banho. Pegou o uma caneca no armário e completou com o café amanhecido. Tomou seu conteúdo num único gole. O gosto do café frio fez com que sua mandíbula se contraísse involuntariamente, o líquido enregelado e amargo desceu pela garganta de Joaquim arranhando-a.
Joaquim voltou para a sala e calçou os sapatos. Caminhou até o quarto silenciosamente, beijou o rosto da mulher que ainda dormia e foi embora. Pegou a chave do carro, saiu de casa, trancou a porta e chamou o elevador. Ele chegou mais rápido do que o normal e estava vazio. “Que sorte a minha,” ponderou Joaquim “assim consigo evitar aquela conversa chata de elevador com pessoas que nem sei o nome”. Entrou e apertou o botão do subsolo. A porta do elevador se fechou e iniciou a descida enquanto seu único passageiro torcia para que não parasse em andar algum a não ser o que ele próprio requisitou.
O elevador chegou ao subsolo sem nenhuma interrupção. Joaquim olhou para o relógio de pulso. O ponteiro menor estava a meio caminho do nove, enquanto o maior estava postado sobre o oito. Estava atrasado. Ele se apressou tanto para chegar ao seu carro que nem percebeu o quão cheio estava o estacionamento do prédio.
Entrou no carro, jogou sua pasta no banco do passageiro, ligou e partiu. As ruas estavam mais vazias que de costume, mas ainda assim Joaquim andou o mais rápido que pôde. Costurando todos os “pés presos” que estavam em seu caminho, ele chegou à empresa e desceu do carro esbaforido. Correu para a porta de entrada, mas quando se colocou em frente à porta de vidro percebeu que havia esquecido a pasta dentro do carro. Voltou apressadamente para buscá-la. Deu uma olhada rápida no relógio. 8h55. Abriu o carro, pegou a pasta, fechou o carro. Correu até a porta de entrada e quase bateu a testa no vidro quando a empurrou, mas ela não se abriu.
Intrigado, o segurança da empresa, Jeferson, foi até ele. Mas antes que ele pudesse fazer qualquer indagação, Joaquim começou a praguejar:
- Porra, Jeferson! Que merda é essa!? Não são nem nove horas e a porta já está fechada. Abre logo essa bosta pra eu entrar. Anda...
Ainda mais confuso Jeferson apenas respondeu:
- Mas senhor, hoje é sábado.

2 comentários:

  1. Eu ia falar Durval, mas suave, já foi!

    ResponderExcluir
  2. ótimo, apesar de ter a sensação de já ter lido isso antes...
    O engraçado é que, conforme descreveu-se a pressa do Joaquim, eu comecei a ler mais rápido..ahaha..

    ResponderExcluir