terça-feira, 29 de março de 2011

Enter Sandman - Metallica



- Venha aqui, garoto. – disse o homem estranho. – Pegue minha mão. Vamos não tenha medo.

E de repente parecia que todas as pessoas do mundo tinham sumido. E ele estava sozinho. Não tinha ninguém para ajudá-lo, teria de tomar aquela decisão sozinho. Mas aquele homem era muito estranho. Lembrou-se de sua mãe dizendo para não confiar em estranhos.

- Faça suas preces, meu filho. – ela dizia. O homem da areia, era como ele o via, estava ali parado esperando por ele. Sujo, com um cheiro estranho, mas muito simpático e atencioso. Não parecia querer fazer mal. Dizia coisas legais, falando que o levaria a lugares mágicos.

- Você vai conhecer a Terra do Nunca. Você sabe o que é? – o garoto balançou a cabeça negativamente. – Ah, é um lugar mágico, onde as crianças nunca crescem e podem voar. Você quer voar?

E pensar que há poucas horas estava na porta da escola quando o homem da areia chegou e o convidou para um passeio. Seus amigos também gostaram dele, mas não puderam acompanhá-lo no passeio. Todos eles moravam longe e seus pais os buscavam na escola. Sorte a dele que ia a pé para casa.

O homem da areia o levou-o a um lugar escondido no subúrbio da cidade. Para oferecê-lo algo que o faria voar. Ele não parecia uma pessoa má.

- Vamos pequenino, vai querer? A primeira eu te dou de graça.

Estendeu para ele um pequeno saquinho fechado. E ele aceitou.

- Muito bem, vamos conhecer a Branca de Neve.

terça-feira, 22 de março de 2011

Musicontos - Clandestino



- Corre Maria!

E de repente o mundo sucumbiu. Aquela bela tarde ensolarada e tranquila se transformava em uma irreal mistura de cores e sons confusos. Maria e seu marido pegaram seus pertences mais importantes e o pouco de dinheiro que tinham feito pela manhã e correram desesperadamente deixando para trás uma grande quantidade de mercadoria em sua barraquinha na vendinha local. Num breve olhar de relance para trás, eles vêem os homens fardados derrubando todas suas mercadorias no chão. E não há tempo para lamentações, eles apenas continuam a correr.

Eles dobram à direita em uma ruela escondida. Ambos se esgueirando para chegar ao final da rua. Um olhar de relance para trás e os policiais ainda os seguem. Dobram novamente à direita, tentando despistá-los. E os policiais seguem no encalço. Eles começavam a se desesperar quando uma porta se abre na rua por onde eles corriam. Um senhor postado em frente a ela fazia um sinal com os braços.

- Entrem aqui!

Sem opção, o casal fugitivo adentra o portal. Eles ouvem a porta bater às suas costas. E pela janela eles vêem os policiais passando correndo direto sem percebê-los. Só então que os nervos se assentaram e eles puderam perceber onde estavam. Era o interior de um pequeno restaurante. E eles o conheciam. Era uma taverna onde os clientes eram principalmente imigrantes. O próprio dono era ilegal.

E viver na América era assim. Sempre contando com a ajuda do próximo que está numa situação parecida. “Ilegal”, eles dizem. Tudo isso por não ter um pedaço de papel que diz que podem viver ali. Clandestinos que deveriam passar a vida assim, fugindo das autoridades. Quando tudo que queriam era viver normal e tranquilamente no país da oportunidade.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Musicontos - Under the Bridge





Aqui em baixo, escondido das luzes da cidade, eu me sinto protegido. Mas ao mesmo tempo fico assustado. Os carros passam sobre a minha cabeça e seus ruídos distorcidos em meu cérebro entorpecido parecem mais com rugidos ferozes de animais selvagens querendo me devorar. E eu estou sozinho. Com a cidade como minha única companheira.

A ponte onde me escondo me protege da chuva e do frio. E a solidão bate duramente em meu peito. Quando me sinto esmagado por ela, acendo minha pita. Meu corpo relaxa, mas feras voltam a rugir ao meu redor. A ponte sob a qual me escondo não vai me proteger dos rugidos mortais em minha mente. Eu estou sozinho e me rendendo ao mesmo vício que o levou de mim. Sinto a sua falta. Mas não quero ter o mesmo fim que você. Você foi o meu melhor amigo e sinto a sua falta. E o mal que o levou, ainda me consome.

A cidade passa rapidamente diante de meus olhos, enquanto fico atordoado demais para me mover. Desde que você se foi ela é minha única amiga. Decido sair para uma caminhada. Quando me levanto, os habitantes da ponte me olham intrigados. Eles sabem que eu não pertenço àquele mundo. Mas acho que sabem que não farei mal a eles. Eles me deixam ir.

Horas, ou minutos, ou segundos depois retorno à ponte. Não tenho mais noção de tempo, nem de espaço. Sento sob a ponte e novamente penso em você. Por que você se foi? Por que me sinto tão só? Por você farei um último esforço. Pego meu caderno e começo a fazer aquilo que era meu objetivo inicial quando cheguei à ponte, dias atrás. Sozinho sob uma ponte. Eu e minha pita. E a letra flui naturalmente.

terça-feira, 1 de março de 2011

Musicontos - Smoke Two Joints




- Pode apagar? – perguntou um.
- Pode. – respondeu o outro.
E um silêncio se fez entre os dois. Silêncio esse que rendeu milhares de pensamentos sortidos. Em poucos segundos de silêncio. Um silêncio de duas criaturas, separadas por uma poltrona e um sofá.
- Cara, as vezes a vida parece um grande jogo, não é? – Disse o que estava sentado na poltrona. O do sofá encarou o primeiro com uma expressão interrogativa estampada na face.
- Como é que é? – o da poltrona apenas sorriu e lambeu os lábios ressacados antes de começar a falar.
- Pensa comigo... – iniciou aquele que julgaria ser um verdadeiro discurso e ficaria extremamente satisfeito se ao final dele o único ouvinte presente saísse entendido. – Quando a gente precisa de alguma coisa, sempre aparece um desafio no meio do caminho. Alguma coisa que você não esperava encontrar lá. Aí você precisa pensar num jeito de passar por ele, usando os recursos e as ferramentas que você tem a disposição. Certo? – o outro fez que sim com a cabeça. Parecia estar acompanhando o raciocínio. – Então, se você consegue passar pelo seu desafio, você pode chegar no seu prêmio, naquilo que você quer. Se você para no desafio é game over, brother, desiste do prêmio. E quando a gente vai passando de fase, parece que vai ficando cada vez mais difícil...
- Nooooossa, pode crer. – completou o do sofá, finalmente entrando na conversa. – E ás vezes tem umas fases bônus.
- Fase bônus? – foi a vez do rapaz da poltrona fazer cara de dúvida.
- É, tipo aquelas missões secretas de quando o Mario entra no cano.
- Eu sei o que é uma fase bônus, só não entendi o que você quis dizer com isso.
- Ah, é quando você ta numa situação diferente do normal, parece que os obstáculos são meio diferentes. Tipo uma brisa que não é da fase mesmo, saca?
- Podeee crer.
E novamente o silêncio reinou entre eles por eternos segundos. Suas bocas se rasgavam por dentro de tão secas.
- Cara, sabe o que eu queria agora? – indagou o da poltrona.
- Hum?
- Uma garrafa de água.
- Uma garrafa?
- É.
- Também to com a boca seca, mas um copinho acho que resolve.
- Eu tinha pensado na garrafa por que a gente deixava ela aqui, aí não precisava ficar levantando pra beber água. – disse o da poltroa, todo pomposo.
- Pode creeee.
- Então?
- Então o que?
- Pega a garrafa lá.
- Por que eu? Você que tá querendo. – argumentou o do sofá.
- Mas eu já dei a idéia da garrafa. Vai, mano.
- Nossa velho, fase nível hard. – rendeu-se o outro, levantando-se de seu confortável sofá.
E ele deixou a sala em direção à cozinha. Enquanto o outro permaneceu imóvel em sua poltrona. Os segundos corriam em slow motion do cronômetro que piscava incessantemente no topo da tela. Por onde será que andava seu parceiro? Não o via mais no mapa. Que tipo de adversidades encontrou no caminho de sua busca pelo objeto final. O cálice de água eterno. Ouviu o barulho da porta da geladeira de fechando. Sabia que seu parceiro obtivera êxito em sua missão.
- Cara, esse foi tipo o chefão. – disse o outro, anunciando sua merecida vitória. Voltou a se acomodar em seu sofá, local do qual não queria ter saído de maneira alguma.
- Agora o prêmio. - E ele deu um longo e refrescante gole na água. A garrafa toda suada por fora anunciava o quão gelada ela estava.
- Ahhhhh... Refil de vida.
E ambos cairam na gargalhada. Enquanto o da poltrona bebia da poção sagrada, o do sofá mexia em alguns apetrechos pessoais que estavam no braço do sofá. O da poltrona terminou seu gole, recarregando suas energias. Enquanto isso, o do sofá o fitava esperando que o contato visual acontecesse. E o da poltrona olhou. Rapidamente o do sofá disse antes que o outro decidisse começar a falar de novo:
- E aí, vamos acender outro?